Empresas de antivírus criam os vírus?
Estamos em 2020 e alguns internautas ainda acreditam que empresas de antivírus criam os vírus para indiretamente obrigar você usar os produtos delas – algo que é uma besteira monumental.
Eu trabalho com informática desde 1983 e com Windows desde 1987 e vivenciei “ao vivo” o aparecimento dos vírus e a antivírus.
Os primeiros vírus que apareceram (Brain, Vienna..) eram inofensivos, mostrando apenas uma imagem ou frase na tela, mas em pouco tempo eles começaram a se tornar danosos, como o Jerusalém (de 1987) que apagava todos os arquivos do computador no dia 13, se esse dia fosse sexta-feira.
Nessa época a remoção deles era algo bastante trabalhoso e exigia conhecimento para isso (eu removia esses vírus manualmente utilizando um editor hexadecimal), e começaram a aparecer os primeiros antivírus, sendo que todos eles eram gratuitos.

Esses vírus foram criados “por diversão” por programadores em universidades e distribuídos principalmente via Usenet/BBS (um tipo primitivo de internet). Com o aumento explosivo da venda de PCs e a massificação do uso de redes locais, novos vírus apareceram (Ping-Pong, Michelangelo, Happy99, Melissa..) e começaram a causar muitos danos.
Com isso, surgiu os antivírus precisaram se sofisticar (pois novos vírus apareciam) e se atualizarem constantemente – e isso custava caro para a empresa de antivírus. O resultado é que alguns antivírus gratuitos precisaram se tornar pagos.
Com o tempo os vírus deixaram de ser “diversão” e se tornaram comerciais – tanto que os criadores de vírus perceberam que é muito mais lucrativo roubar dados dos usuários (principalmente cartão de crédito) do que apagar os arquivos do computador dele.
Hoje em dia o ransomware é o exemplo mais claro disso, aonde ele sequestra os arquivos do usuário, exigindo o pagamento de resgate para devolvê-los.
Além disso, muitos hackers são focados em crimes relacionados a cartões de crédito pela facilidade de obter e revender informações valiosas deles. Um exemplo simples aconteceu no ano passado aonde um grupo de hackers russos causou mais de meio bilhão de dólares de prejuízo utilizando a obtenção e venda de cartões de crédito de maneira ilegal.
Para piorar:
Existe um mercado monstruoso de venda de novos vírus, malware e ransomware na deep web
Existem ferramentas específicas para criação de malware, fazendo com que basicamente qualquer pessoa possa criar um novo vírus
Empresas vendem informações de falhas em software, possibilitando a criação de malware que aproveite essas falhas
Governos criam malwares sofisticados para uso próprio
Novos grupos de hackers aparecem a todo instante
A internet permite que qualquer pessoa possa acessar qualquer computador em qualquer lugar do mundo, tornando uma infecção extremamente rápida, eficiente e lucrativa.
O resultado disso tudo é que, de acordo com a Kaspersky, aparecem 350 MIL novos vírus POR DIA. A conclusão disso é que não faz nenhum sentido as empresas de antivírus criarem vírus, pois há milhares de criminosos e grupos de hackers fazendo isso diariamente.
Como os antivírus sempre estão “um passo atrás” dos criminosos, eles precisam implementar funcionalidades complexas para aumentar a segurança dos usuários – o uso de inteligência artificial e monitoramento do comportamento dos executáveis são dois exemplos disso.
Por fim, há anos a Microsoft implementou um antivírus gratuito (Windows Defender) evitando que o usuário se preocupe em comprar um antivírus, além de existir vários outros antivírus gratuitos no mercado.
Conclusão: não faz sentido empresas de antivírus criarem antivírus para “forçar” a compra de seus produtos..